terça-feira, 9 de novembro de 2010

Educação de Jovens e Adultos: GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E CORPO DOCENTE

     Após estudarmos as bases históricas e legais da Educação de Jovens e Adultos, como a LDB 9394/93, bem como o parecer 11/200, analisando o perfil dos estudantes e a formação dos professores, partirmos para a análise prática da disciplina, a visitação ás escolas. Realizei minha observação participante na Unidade de Educação de Jovens e Adultos Tiradentes, localizada no bairro Glória, em Porto Alegre. A escola atende ao público de moradores próximos ao local, como também trabalhadores, e alunos que não conseguiram vagas em outras unidades de ensino.
     Entre outros pontos da pesquisa, optei por apresentar minhas impressões sobre a gestão escolar democrática e sua relação com o corpo docente. Segundo LIBÂNEO (2004), é muito importante que os professores participem ativamente dos projetos e práticas da organização e gestão da escola. O trabalho com a Educação de Jovens e Adultos em sua função reparadora garante o “direito a uma escola de qualidade, construção da cidadania, igualdade de oportunidades para as pessoas que não tiveram uma adequada correlação idade/ano escolar em seu itinerário educacional” (Parecer 11/2000). Percebe-se que os modos de agir e pensar já consolidados, as atitudes de acomodamento, a resistência a mudanças nas práticas que o corpo docente acha que está dando certo e sair da zona de conforto é um entrave para a mudança do ensino e da qualidade da EJA. O melhor meio de promover a gestão participativa consiste em estimular a participação dos professores em um ambiente de confiança e transparência. Para Terezinha Rios (2000):

“Um profissional qualificado é aquele que possui determinadas qualidades. A competência envolve uma pluralidade de propriedades, um conjunto de qualidades positivas fundadas no bem comum, na realização dos direitos do coletivo de uma sociedade”

     Os professores que atuam na EJA geralmente são os profissionais que atuam na formação de alunos em nível fundamental e médio, tendo formação específica em uma certa área do conhecimento, utilizando-se da mesma metodologia. Como uma pedagogia determinada para um certo nível de educação pode ser aplicada em outro? (ARROYO, 2006). Estariam os alunos da EJA sendo afetados/desmotivados, pela falta de preparo dos professores, em uma prática desarticulada da realidade, da corrente teórica Freiriana prevista para a EJA, em uma gestão pedagógica fechada? Paulo Freire, através da primeira contribuição popular e libertária para a Educação de Jovens e Adultos, baseando-se nos interesses das camadas populares, faz sua crítica aos métodos de ensino tradicionais.

“A ação do professor que trabalha com a educação de jovens e adultos consiste, sobretudo em estimular no educando a consciência crítica de si e do mundo, habilitando-o com os conhecimentos científicos e sociais acumulados pela civilização humana, e necessários para este objetivo” (FREIRE, 1996 )

     O desafio presente na realidade escolar é a implantação de uma gestão participativa e aberta com o corpo docente, tendo como pressuposto a coletividade e os benefícios do trabalho para o grupo educacional. A proposição de projetos é uma possível alternativa com ações que envolvem todos os sujeitos da escola, desde a comunidade, alunos, funcionários, professores e gestores educacionais. A participação na construção e organização curricular, como também o Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar e Projetos interdisciplinares são, devem ser, medidas coletivas que exigem pesquisa, estudos e sistematização de idéias, para seu efetivo funcionamento. O comprometimento com a educação e o desejo de proporcionar aos jovens e adultos a preparação para a cidadania e a qualificação para o trabalho, bem como a permanência nos estudos é dever de toda a equipe escolar.
     Um dos principais fenômenos da Educação de Jovens e Adultos é o abandono ou evasão escolar devido a desmotivação e/ou fracasso nos estudos. Existem discussões vigentes sobre o fechamento desta modalidade de ensino, EJA, devido ao alto custo para os órgãos responsáveis, bem como o descaso das autoridades, o que vai de encontra com se tem previsto em lei: “O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si”. (LDB 9394/96. art. 37. § 2º.) Observa-se que a população, camadas populares ou não, é assegurada por lei, mas não é o que se constata na atual realidade. O empenho e o comprometimento dos grupos que querem continuar trabalhando com esta modalidade é de extrema importância, para que não ocorra uma nova exclusão e repressão das camadas populares. Deste modo, ensinar através da conscientização por meio do diálogo, despertando a consciência crítica dos educandos, fazendo-os sujeitos atuantes da sociedade, contemplando seus interesses e a necessidades, terá como conseqüência, a promoção da educação libertária e popular, como também, a ampliação da oferta de vagas e público-alvo para continuar nessa mudança.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARROYO, Miguel. Formação de educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte: Secretaria de Educação, 2006.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96. Brasília, 20 dez. 1996

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. 5º ed. 2004

PARECER CNE Nº 11/2000 - CEB - Aprovado em: 10.5.2000

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