segunda-feira, 22 de novembro de 2010

EJA:DIFICULDADES EM APRENDER E ENSINAR

O texto a seguir é fruto das reflexões feitas nas aulas da disciplina de Educação de Jovens e Adultos do Curso de Pedagogia do IPA, bem como da prática de observação realizada em uma escola publica de Porto Alegre.


EJA:DIFICULDADES EM APRENDER E ENSINAR

Discutir EDUCAÇÃO hoje significa transitar entre os diversos significados do vocábulo “discussão”. Ao abordarmos o tema da educação nos valemos da” discussão“ tanto em sua concepção investigativa, como significando:debate, questão polêmica e controvérsia. Essa divergência de opiniões é decorrente não somente dos insucessos observados, mas também das possibilidades de solucioná-los. Dentre os assuntos polêmicos dissertados na área de educação destaca-se a questão das dificuldades de aprendizagem, consideradas protagonistas do fracasso e, consequentemente, da reprovação e evasão escolares. Dificuldades de aprender que passam por diversas causas, inclusive fatores neurológicos.
A prática de observação na EJA me permitiu uma imersão na dura realidade de uma sala de aula na qual as dificuldades observadas se constituíam como obstáculo à construção do conhecimento. Dificuldades não somente para aprender o que estava sendo ensinado, mas também dificuldades para ensinar o que deveria ser aprendido. A heterogeneidade da turma em relação à faixa etária, origem, conhecimentos adquiridos, interesses e expectativas, bem como a inabilidade da professora para lidar com tanta diversidade, forneciam elementos impeditivos à aprendizagem.
O quadro em destaque mostra que a EJA atende ao que prevê a Lei 9.394/96 em relação ao direito de acesso desses alunos.: “ A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Porém, denuncia a dissonância no que se refere à garantia de permanência dos mesmos., no momento em que negligencia o direito a oportunidades educacionais apropriadas, que considerem as características, interesses e condições de vida do alunado, garantidos também na LDB.
Essa dissonância ou desarmonia entre lei e realidade ou mesmo entre ensinar e aprender, transcende as dificuldades de aprender e ensinar observadas. Na verdade, encontramos suas raízes na falta de políticas públicas para a educação, que se traduz em escassez de recursos destinados à educação , metodologias e currículo inapropriados, desvalorização do profissional em educação, entre outros.
A dificuldade em aprender reflete não somente o cansaço físico do aluno e a baixa estima resultante do seu histórico de fracasso escolar, ela deriva de metodologias inadequadas que não consideram os conhecimentos prévios do aluno e não oportunizam sua participação no processo de aprendizagem. Enfim, a dificuldade de aprendizagem também decorre de uma EDUCAÇÃO que privilegia o treinamento e reproduz o modelo já conhecido e que acabou por excluir esses mesmos alunos. Essa Educação que não prepara para a cidadania, que não forma sujeitos críticos e que não tem conexão com a realidade , denomina-se Educação Bancária ( FREIRE,1996).Modelo que reproduz a concepção empirista de educação,onde a professora ensina transmitindo ou depositando os conhecimentos e os alunos cumprem o papel de meros receptores.
Partindo da premissa que a Educação Bancária é ausente de significado, portanto desmotivadora, e que na aula observada destacam-se princípios de uma educação tradicional, fundamentada no empirismo, atribui-se, então, a culpa da não aprendizagem a quem se utilizou de tal metodologia nociva? Transfere-se toda a responsabilidade a quem não conseguiu ensinar?
Não! Isso seria precipitação e atribuição de culpa baseada em aparências. O diagnóstico é necessário na identificação dos problemas, mas conhecer a causa, o fator de origem pode contribuir para a resolução dos mesmos. Em busca das causas, nos deparamos com uma professora que representa tantas outras da escola pública:carinhosa, preocupada com os alunos,conhecedora de suas histórias e de seus problemas, cumprindo funções de educadora, mãe e psicóloga. Mas que apesar de sua boa vontade, não consegue fazer os links necessários entre a realidade dos educandos e os conteúdos a serem estudados. E essa inabilidade já mencionada reside na própria formação do professor ou nas lacunas por ela deixadas, na desvalorização do mesmo enquanto profissional e nos baixos salários que ,muitas vezes ,o obrigam a trabalhar sessenta horas semanais para garantir o próprio sustento e de sua família. .A valorização da educação também passa pela valorização do professor, por melhores condições de trabalho, salário e formação continuada. De acordo com Freire(1996)“...não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha. Não posso ensinar o que não sei.”
É através da formação permanente, da pesquisa , da busca que o professor encontrará subsídios para fundamentar sua prática pedagógica e refletir sobre a mesma. Para Freire(1996) “A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”. A reflexão necessária à prática educativa promove a coerência entre discurso e prática, contribuindo para a qualificação profissional do educador/a . A qualificação do professor/a resulta em qualificação da educação e qualificação do aluno.
Embora professor/a e aluno/a venham carregando há anos o fardo das não aprendizagens, dos insucessos e dos fracassos, entendemos que ambos estão presos às amarras da educação bancária que oprime, treina e aliena. Vale ressaltar ainda que a presente reflexão não tem caráter desqualificador em relação a EJA, mas um olhar crítico que aponta para os princípios que devem nortear a educação popular, a educação de jovens e adultos que não tiveram acesso à educação ou que foram expurgados pelo sistema educacional vigente.
A falta de vontade política vem protagonizando o descaso com a educação. Mas não pode cercear o professor, o educador que se percebe formador de sujeitos críticos, capazes de intervirem na própria realidade, de romperem com o determinismo e de se fazerem mais do que objetos da história, de se tornarem sujeitos da história. Não há como calar aquele que forma para transformação .do educando e da sociedade. E, por fim, nesta interação também se forma e se transforma.



Referências Bibliográficas

Freire,Paulo. Pedagogia da autonomia:saberes necessário à prática educativa/Paulo

Freire.São Paulo:Paz e Terra (Coleção Leitura)

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional( 1996)

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