quinta-feira, 18 de novembro de 2010

LER E ESCREVER - CIÊNCIAS

Texto feito a partir de: IDEIAS E PALAVRAS NA/DA CIÊNCIA OU LEITURA E ESCRITA: O QUE A CIÊNCIA TEM A VER COM ISSO? - LOPES, Cesar V. Machado; DULAC, Elaine B. Ferreira do livro LER E ESCREVER: COMPROMISSO DE TODAS AS ÁREAS


O texto destaca as práticas sociais e culturais que envolvem a leitura e a escrita, indo além da ideia de analfabetos e alfabetizados e analisando as implicações sociais da leitura e da escrita. Além disto coloca como necessidade imediata a discussão de como se lê e se escreve e como os envolvidos neste ato se relacionam com os textos e criam significados a partir dos mesmos.
Já que a a tradição da linguagem escrita é restrita a ambientes onde leituras são exigidas (não sendo utilizada se não houver a obrigação) ela dá espaço para que a forma de comunicação mais influente seja a visual, principalmente a televisiva que emprega o uso da novidade, do impacto, do choque, da fugacidade e do ritmo incessante para chegar ao telespectador com mais facilidade, pois a forma como seu conteúdo é apresentado não requer aprendizagem ou esforço demasiado.


Tudo que a antena captar meu coração captura

Que espaço tem a literatura numa sociedade multimídia? A comunicação visual é predominante, destacando-se principalmente a televisão, isto se torna evidente quando comparada a leitura que é restrita a pessoas que já tem desenvolvido o hábito de ler e tem acesso a literatura, enquanto a televisão é de acesso universal, talvez por isso direcionada a vários públicos, não exige tanto quanto a leitura.
Diferentemente da televisão, o texto ou livro congela a informação: quando lemos temos mais tempo para refletir sobre o que está escrito, pois o conteúdo não se modifica enquanto estamos a refletir sobre ele, já nas tecnologias multimídia os fatos são considerados legítimos e confiáveis ou para alguns não, mas não permitem este tempo de reflexão sob a pena de tornarem-se ultrapassadas, isto ameaça a nossa capacidade de auto reflexão já que o conteúdo é apresentado, interpretado, discutidos e até suas conclusões são expressas, e nós apenas assistimos.
Por ser mais difundida e atingir inclusive as partes da população menos favorecidas essas tecnologias oferecem possibilidades muito maiores de controle social. Seu desenvolvimento construído conforme as leis da racionalidade capitalista, se opõem de certa forma a ampliação das possibilidades da emancipação humana, dependendo da maneira que for utilizada.

A minha escola tem gente de verdade

A importância da aprendizagem da língua escrita em situações de ensino no ambiente escolar é muito clara: esta é tarefa desde as séries iniciais, e serve de base para outros conhecimentos. Porém é muito comum nos depararmos com professores em dificuldade para o ensino da mesma, como pobreza de vocabulário, falta de habilidade de interpretação e usos de sinais de pontuação. Mesmo com essas dificuldades, ler e escrever são indicados como processos naturais na escola. Por isto os professores de séries mais avançadas (depois da alfabetização tradicional) partem do pressuposto de que todos seus alunos já sabem ler e escrever, utilizando-se dela como meio para que os alunos aprendam, compreendam, construam e comuniquem o conhecimento.
Tendo isto em vista surge o questionamento: o desenvolvimento da linguagem é de responsabilidade apenas da área da língua materna ou é um compromisso de todas as áreas? O ler e escrever é desenvolvido a partir do que se lê no mundo, um mundo que é construído por cada leitor e que envolve todas as áreas sem dissociação, sendo portanto compromisso de todas as áreas do conhecimento. Tendo em vista esta perspectiva o trabalho com leitura e escrita em ciências se utiliza de habilidades para diferentes situações de aula (elaboração de questionários e apontamentos, por exemplo), podendo considerar-se a linguagem escrita como um dos meios mais eficazes através dos quais a ciência se constitui e constrói realidades.
A constituição das ciências naturais pode ser entendida como uma construção semântica: baseada no significado compartilhado de palavras. Na escola que são utilizadas para aproximar o aluno da realidade construída pela ciência devem partir do pressuposto de que como já foi dito antes sejam baseadas no significado que os alunos compartilham sobre determinadas palavras, e isto deve ser observado visto que dentro de um mesmo grupo podemos ter diferentes significados para a mesma palavra. Sendo assim o ler e escrever, transcende o simples ato de fazê-los tornando-se construtora de realidades, do conhecimento e da ciência.

O que foi escondido é o que se escondeu

A ciência escolar se difere da ciência praticada em relação aos objetivos e consequentemente em relação as práticas, ou seja difere na sua constituição. O objetivo da ciência escolar deveria ser o de possibilitar a ampliação da leitura de mundo. No entanto o que se percebe é que através de sua linguagem (que só é por ela utilizada e que não corresponde com a realidade) esconde mais que revela novas perspectivas de ver o mundo, criando seu próprio mundo- o mundo das ciências. Este mundo se utiliza de suas próprias palavras para explicar eventos enquanto isto temos outra linguagem para explicar os mesmos eventos no nosso mundo.
Poderíamos dizer que a linguagem da ciência está muito mais próxima da linguagem escrita, pois busca a identificação de coisas e processos, enfatizando produtos do trabalho científico, apresentada na maioria das vezes de modo impessoal. Enquanto a linguagem cotidiana estaria mais próxima da fala, enfatizando os acontecimentos, apresentada de maneira pessoal na perspectiva do narrador.
Representar e ler este mundo implica entender a ciência e sua linguagem como parte da realidade compromissada com o todo, e que deve estabelecer relações significativas com o todo. Ler o mundo pode significar compreender as diversas formas de pensar e explicar os diferentes fenômenos do cotidiano, assim como estabelecer relações entre os diferentes saberes da nossa cultura. Para dar conta disto muitos autores se referem a alfabetização em ciências e em diversas outras áreas, no sentido que é necessário que a ciência escolar possibilite aos seus membros a analise crítica sobre os diversos fatos que ocorrem no cotidiano.
Até agora a ciência parece ter apenas enriquecido o vocabulário dos alunos com palavras da ciência, não lhe atribuindo significado para a realidade fora do mundo das ciências. Isto constrói para ciências o status de superioridade em relação a leitura de mundo. Mas é necessário que se observe que além de a ciência não ser detentora da verdade suprema, ela não é neutra, serve a quem a domina.
Identificando a ciência e a tecnologia no âmbito das construções da humanidade, estamos localizando-as no espectro da cultura, portanto junto a junto à pintura, à dança, à literatura, à religião, ao teatro. Logo, despida do manto de superioridade e e possível de ser entendida e compreendida por todas as pessoas. Porém cabe perguntar se este caráter da ciência é possível dentro da sociedade em que vivemos.

A melhor forma de enxergar no escuro

A partir do texto fica clara a necessidade de formar leitores que compreendam a linguagem da ciência e que saibam que para tal devem renunciar a pretensão totalitária do texto (Vinão Frago [1993]), ou seja devemos questionar o que lemos a fim de entender o que está sendo dito e também devemos combinar está leitura com a escrita e assim entendermos melhor o que lemos a partir do momento em que escrevemos sobre tal.
Não se trata de ler para viver, nem de viver para ler, mas sim de se viver quando se lê e ler, quando se vive no livro da vida (Vinão Frago [1993]).

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